quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Sopros de vida

Byra é senegalês, tem vinte e poucos anos e chegou numa patera às costas espanholas com o sonho de uma vida melhor, como dezenas que chegam depois de pagar valentes centenas de euros aos traficantes que os queiram trazer....Seguem-se os 500 metros barreira de polícias nas praias e a esperança de que os mais rápidos se consigam escapar... Byra não escapou talvez as linhas delgadas do seu corpo não o permitissem, talvez não pudesse mais depois de tantas horas no mar alto.Deixa-me completar o vazio na história como eu queira, sei do constraste dos seus dentes brancos com a cara negra que não me quer contar... Não lhe interessa recordar... Em Jerez foi acolhido num centro de apoio aos imigrantes ilegais, actualmente trabalha em Huelva num centro igual ao que o recebeu e serve de intérprete aos que chegam de novo. E sabes que mais? "Dizem que tenho um acento cerrado de Cádiz!" , volta a sorrir, muito.
O ano passado conheci uma família cigana romena, acabada de chegar ao sul de Espanha, os três filhos e a mãe tinham os olhares vazios e deixavam-se guiar pelas parcas palavras em castelhano que o pai pronunciava com os demais... Quando lhes ofereceram de comer, recusaram baixando a cara e levantando o orgulho. O pai apenas mencionava que queria trabalhar e não fazer como os seus compatriotas... Hoje quando passeava pela rua uma senhora agarrada ao filho cumprimentou-me muito sorridente, retribui-lhes o amistoso "Hola!" e segui caminho. Uns metros mais à frente um rapaz muito bem vestido com um cão grande pela mão, saudou-me, voltei a retribuir a simpatia e pensei que neste bairro as pessoas eram muito amistosas. Só agora, muitas horas depois me lembrei que estas pessoas eram a família romena... Como diz o ditado "Quem muda, Deus ajuda"...

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